segunda-feira, 31 de maio de 2010

A Revolução do Amor


O amor usa pochete e veste calça baggy de cós alto. Mas andam pegando muito pesado com ele ultimamente. De lindo caiu na decadência e hoje faz figuração em novela das oito, além de participar de comerciais da Sazon e do McDonald’s para ganhar a vida. É um triste fim para quem já esteve presente na vida de cada um de nós e hoje em vez de aquecer pessoas em dias frios, aquece as vendas no Dia dos Namorados. Um dia em que o amor é difamado por cartões que carregam mensagens produzidas em série e presentes em três vezes sem juros. Sem contar nas filas intermináveis nas portas dos motéis para homenagear o sentimento mais belo com um coito programado de duas horas em uma cama que o casal anterior teve a gentileza de deixar pré-aquecida.

O que aconteceu? Onde está o calor humano, que na contramão do aquecimento global, desapareceu? Parece que os cientistas, depois de séculos de pesquisas, finalmente alcançaram o seu objetivo maior de fazer com que a razão derrubasse a emoção, montasse em cima dela e envolvesse o pescoço da vítima de tal forma que a sufocasse até o último suspiro. Mas quando a razão acredita que tudo está terminado e já sai para comemorar, a alma do amor, que já começa a se desprender do corpo, se estica e consegue bater na mão de nada mais, nada menos, do que a intuição. Sim, a intuição trajada de roupa de lycra azul bebê, com sunga dourada por cima e uma máscara, no perfeito estilo lucha libre. E a intuição “El Pancho” sobe nas cordas e com um salto faz uma entrada triunfal no ringue e antes que a razão tenha tempo de reagir, é atingida, ironicamente no lado esquerdo do peito, por uma voadora fulminante com os dois pés.

A razão mal cambaleia e já cai estirada no chão, com a língua para fora. Como a foto clássica do Einstein, só que com a língua para o lado. Chega o juiz, chegam os paramédicos e nada de pulsação. A razão vestiu o paletó de madeira.

O amor não só é salvo, mas reina absoluto. E indica a intuição como Ministro da Defesa e seu braço direito no governo. Agora toda a população tem condições de alimentar a esperança e a morar no coração de alguém. Menos favorecidos têm a oportunidade de ascensão e chegar ao status de relacionamento sério. Oprimidos que tiveram seus sentimentos pisoteados podem novamente se sentir nas nuvens. Depressivos podem parar de tomar seus remédios e ficarem descontrolados. Porque o amor é assim. Permite que você fique louco e não vista uma camisa de força. Escreva uma poesia rimando Avenida Paulista com menina bonita e saia ileso. Se fantasie com cueca de couro, chicote e máscara do Zorro e pareça sensual. O amor é socialista e prova que todos podem ter o seu cutchi cutchi ô gente é bunitin demais e eventualmente viver sob o mesmo teto.

Mas no lugar da foice e do martelo, neste socialismo, os símbolos são as respostas afiadas e o rolo de macarrão. Porque como os regimes comunistas, o relacionamento começa abastado, só que com o tempo os recursos ficam escassos e passam a ser racionados por causa de centralização do poder, aliado a embargos provocados pelo ciúmes excessivo.

Contudo, existe uma teoria para um relacionamento funcionar, que Karl Marx e carta amantes assinariam embaixo. É a que cada indivíduo deve ter direito a seu espaço e acesso à necessidades básicas, como encontrar os amigos e até ficar sozinho. E, sobretudo, aprender a dividir. Um sonho, por exemplo. Que pode ser muito maior se os dois construírem juntos, em vez de cada um fazer o seu. Então o lema é o seguinte: vista sua boina verde oliva, deixe a barba crescer (essa parte só vale para os homens) e realize aquele velho sonho de mudar o mundo. Mas lembre-se que para dar certo este mundo não pode ser só seu.

É dos dois.