Tirando chuva, granizo, neve e excremento de pássaros, nada mais cai do céu. E ficar parado só serve de valentia para alguém que por acaso aventurar-se por uma mata e for surpreendido por uma onça pintada. Precisamos nos movimentar e isso não quer dizer encomendar um Ab-Shaper pelo 1406 e se exercitar diariamente. Quer dizer, simplesmente, retirar os seus glúteos do estado de relaxamento e levantar da cadeira. A mesma cadeira em que você fica horas imaginando aonde quer chegar na vida, o que quer fazer, conquistar. Mas quando abre os olhos, continua sentado na mesma cadeira. Só que agora com um início de hérnia de disco depois de ter se empolgado com o sonho de dançar maxixe profissionalmente.
Quando utilizei a expressão “simplesmente” para classificar o ato de tomar uma iniciativa, talvez não tenha sido tão feliz. Porque de simples não tem nada. Exige um imenso esforço para ultrapassar uma série de obstáculos. E por menos Emulsão Scotch e óleo de fígado de bacalhau que você tenha tomado na sua infância para crescer, a maior deles é você mesmo.
Para ser mais específico, todas aquelas caraminholas que carregamos nas nossas cabeças e que funcionam, literalmente, como adubo para fertilizar e promover o desenvolvimento de medos e receios. Essas caraminholas representam uma ameaça muito maior do que o diabinho que vive em constante conflito com o anjinho da sua consciência. Caraminholas são militantes que atuam com técnicas de guerrilha sofisticadas para seqüestrar sonhos e aprisionar objetivos de vida em nome da sua grande causa: a conformidade. E a eficiência dessas caraminholas é impressionante. Torturadoras inescrupulosas, elas fazem você acreditar que tudo o que sempre quis para a sua vida é descartável. E após uma intensa lavagem cerebral, você mesmo já criou argumentos para se acomodar na zona de conforto: profissão é só um meio para se sustentar, se envolver com alguém é para sofrer depois e uma única pessoa não pode mudar o mundo.
O que era para ser um roteiro original, com grandes personagens, que se passa em diversas partes do mundo e tem um final surpreendente, torna-se uma estória água-com-açúcar, com personagens comuns e que se um dia fosse filmado não poderia ter loucuras, do barulho, nem da pesada no título. Ou seja, mesmo insoso o filme não serviria nem para passar na sessão da tarde.
A questão é que como bons guerrilheiros, caraminholas seguem ideais comunistas, mas não no sentido de igualdade econômica e sim no sentido de frustração igualmente distribuída. Qual a solução? A luta. Enfrentar as caraminholas não só com pensamentos, mas também com ações. Caraminholas sofrem de asma e têm dificuldade de acompanhar pessoas dinâmicas, ativas e que correm atrás do que acreditam e querem realizar. Quanto mais você se mexe, mais elas chiam e ficam sem ar. É cruel, mas é a lei da sobrevivência. Façam elas ficarem azuis e caírem duras. Não vai ter bombinha que as salve. E a partir daí, você está livre. Livre como o tema da sua estória.
Só vê se você não vai deixar a folha em branco.
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