segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Assinale a Alternativa Correta


Tem muitas possibilidades no mundo. Um mundo de possibilidades. Você pode seguir a sua profissão e ver até onde pode ir. Você pode largar tudo e ser um escritor no interior da Espanha. Você pode esquecer a obrigação de formar uma família e viver a vida viajando e fazendo bicos pelo mundo. Você pode fazer um curso de culinária e tentar uma carreira como chefe. Você pode estudar para concurso e buscar uma vida mais tranqüila. Você comprar uma prancha e começar uma busca pela onda perfeita. Você montar uma banda e ser aspirante à Rock Star. Você pode fazer muita coisa. E deve se sentir um privilegiado por isso. Porque você pode escolher.

Poder escolher é muito bom, mas pode ser muito ruim também. Você está na balada e vê uma loira linda com seios que amamentariam 9 recém-nascidos encostada no balcão pedindo uma cerveja. Decide tomar uma iniciativa e conversar com ela, mas quando começa a caminhar na sua direção passa uma morena com uma sainha e umas pernas que vou te contar. Você pára no meio do caminho e não disfarça o olhar de desejo. Agora o radar aponta para esta beldade, pelo menos da cintura para baixo, mas logo dá um giro de 180º por detectar uma risada meiga e uma voz macia de uma ruivinha encantadora com sardinhas, feito uma princesa medieval. Você finalmente foca, mas uma japonesinha esbarra em você sem querer, quase derruba a sua cerveja, mas tem sucesso com um fiozinho de baba que fica pendurado do seu lábio inferior. Que perfume, que delicadeza tem essa gueixa. Você busca abrigo na parede para se recompor e estabelecer a prioridade, o objetivo. Você olha para a loira. Só que ela foi rápida e já está atracada com um sujeito. Agora eles são um só ser de quatro braços nervosos apalpadores compulsivos, como se estivessem atrasados para uma macarronada de domingo escolhendo tomates no supermercado. Já a morena, conversa com um cara duas vezes a sua envergadura. Um brutamontes infértil que trava um diálogo monossilábico com aquela saia e duas pernas. E a princesa medieval? Essa deve ter montado no seu cavalo branco e ido embora para o seu castelo. A partir de agora ela é protagonista de um conto de fadas erótico na sua cabeça. Algo do tipo, Branca de Smegma e Os Sete Orgasmos.

A gueixa. É ela. Na verdade, só sobrou ela. Olho fixo na presa. Você inicia o ataque com passos vagarosos que se intensificam por um trajeto em zig-zag, que é para a vítima não suspeitar a sua aproximação. Já mais perto um garçom faz papel de arbusto. Você respira uma, duas, três vezes e começa uma crise de tosse. Muita fumaça de cigarro no ambiente. Você se recupera, quase salta o garçom e dá o bote. Você está frente-a-frente com esta oriental que ao que tudo indica é uma mestre pompoar. Olho no olho vocês dois ficam atônitos, sem palavras. Você quebra o gelo e propositalmente solta a rainha-mãe das cantadas: “Você vem sempre aqui?”. Os dois caem na gargalhada, mistura-se nervosismo e alívio pelo fim do silêncio. Que risada despreocupada ela tem. Nossa, quantos dentes ela tem. Pelo menos oito dentes a mais do que qualquer outro ser humano, que brigam por espaço em sua boca um por cima do outro, como uma platéia num show gratuito da Madonna em Pequim. Fato que talvez a tornaria interessante caso você fosse estudante de odontologia. Interessante como tema da sua tese de doutorado, talvez. Você dá alguns passos para trás e inicia uma retirada. Covarde, mas ao mesmo tempo compreensível. Você preservou a sua gengiva de danos provavelmente irreparáveis.

Ao contrário do que todos devem concluir, você não foi indeciso. Você teve muita escolha. E opções são impacientes como uma moça hipoglicêmica menstruada com vontade de comer chocolate na noite de Natal em que todas as lojas estão fechadas e só tem panetone com frutas cristalizadas em casa.

Ou seja, como tudo em demasia faz mal. Escolher não foge à regra. Quanto mais você demora, menos opções você tem. Você pode pensar, refletir, discutir, consultar, pesquisar, imaginar e transcender antes de uma decisão. Só não deixe a vida tomá-la para você.

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