Chegou 2010. Um ano em que filmes de ficção científica mostravam a terra devastada, dominada por andróides e humanos desesperados buscando sua sobrevivência.
Eita, espera aí. Não é que esses diretores não estavam tão errados assim nas suas previsões. Tudo bem que não andamos em carros voadores, nem comemos comida desidratada. Tirando os naturebas e seus pacotinhos de abacaxi, banana e mamão que, na contramão do ecologicamente correto, contribuem de forma decisiva para a sobrecarga na rede de saneamento. Mas esses filmes são o retrato, sim, do que vivemos hoje. Um voo para qualquer destino no território nacional e encontrar uma área verde que não seja uma plantação ilícita, ou não, é quase um Procurando Wally.
Ah, mas e as reservas florestais você deve estar pensando. Bem, essas tais reservas onde a espécie mais proeminente são índios com a camisa do Flamengo, também estão sendo devastadas. E pelos mesmos índios com a camisa do Flamengo. Tudo porque devemos a eles centenas de anos de injustiças e maus tratos. Concordo. Mas a natureza não tem nada a ver com isso e muito menos deve alguma coisa a eles. E outra, no meu raso conhecimento sobre cultura indígena, não me recordo de comercializar madeira e andar de Pajero Full do ano, como parte da tradição.
Passamos para o próximo tema: andróides que dominam o mundo. Beleza, não são bem andróides, mas quem hoje sobrevive sem entrar ao menos meia horinha no MSN logo quando chega no trabalho de manhã. Isso na parte manhã, porque na parte da tarde vão mais três horas. E a noite até você ouvir um beijo do gordo na televisão e já estiver pescando e soltando ioiôs de saliva da boca.
Sem contar com a sensação máxima de apego de quem ainda não teve um filho, que é buscar nos bolsos, na mochila, na bolsa, no carro, na mochila do colega ao lado que você ainda conhece tão bem, e não encontrar o danadinho do seu aparelho celular. O que pode ser pior, me diga? E pensar que há 15 anos ele mal existia. E agora é inseparável e no processo evolutivo, em breve, se incorporará ao corpo humano em substituição ao apêndice. Tenho certeza.
Vibradores, iPods, Guitar Heros, TVs, DVDs, laptops, microondas e refrigeradores de cerveja. O ser humano não vive mais sem as máquinas. E isso é fato. O que nos leva agora ao assunto mais polêmico, que é a sobrevivência do homem.
Sempre exploramos os ratos. Sujeitamos os bichinhos às situações mais ridículas, correndo naquelas rodinhas, dietas a base de transgênicos, fizemos os coitados até andarem com uma terceira orelha gigante nas costas. E vejam só o que aconteceu, nos tornamos eles: ratos. Passamos o dia inteiro em frente ao computador, estamos ficando corcundas. Sofremos de insônia e saímos de madrugada em busca de alimento. Trabalhamos tanto que não temos tempo para namorar, nossas mãos estão ficando peludas. Cada vez mais nos parecemos com este roedor. E estamos ficando tão implacáveis e sujos, como ele.
Todos estão em busca de sua sobrevivência a qualquer preço, sem se lembrar de que somos de uma mesma espécie. E só porque nossos objetivos é composto por um pronome possessivo, não quer dizer que você precisa ser igualmente possessivo e guardá-los só para você. Outras pessoas podem fazer parte dos seus objetivos. Assim como, voltar para a academia, parar de fumar, receber um aumento, beber menos. Se bem que beber menos, não. Mas você entendeu. Além de todas essas metas para 2010, ajudar um mundo que não é só seu também pode constar na sua lista.
Faça uma depilação e mãos à obra. 2010 promete.